Eric Gil
O que muitos aguardavam nestas eleições era saber qual seria o desempenho do PT e do PSOL nas urnas. Enquanto se esperava um catástrofe vinda do Partido dos Trabalhadores, o contrário era previsto para o Partido Socialismo e Liberdade. Mas será que isto se concretizou?
Primeiramente temos que discutir isto guardadas as devidas proporções de ambos os partidos. Enquanto o PT fez 6,8 milhões de votos para prefeito e 5,8 milhões para vereador, o PSOL somou 2,1 milhões e 1,3 milhões, respectivamente. Isto se deve às diferenças de estrutura de cada um dos partidos. O PT é muito mais estruturado, hoje, do que o PSOL, isto não só em termos financeiros e de política institucional, mas também de estrutura partidária (quantidade de diretórios municipais, o que mostra a presença em diversas cidades, por exemplo).
Levando isto em consideração vamos aos números.
Tabela 01 – Quantidade de vereadores eleitos por partido
Vereadores | PT | PSOL |
2012 |
5.067 |
49 |
2016 |
2.795 |
53 |
Variação | -44,84% | 8,16% |
Fonte: TSE
O que mais chama a atenção aqui é a derrocada do PT, e não algum crescimento expressivo do PSOL, que em números absolutos só aumentou suas bancadas em quatro vereadores. O PT perdeu quase a metade dos seus parlamentares nas câmaras municipais. Este processo de encolhimento do PT, obviamente, se iniciou antes mesmo das eleições deste domingo, com a saída em massa de muitos vereadores da legenda, fugindo da imagem negativa que o partido passou a emprestá-los.
Tabela 02 – Quantidade de prefeitos eleitos por partido
Prefeitos |
PT |
PSOL |
2012 |
630 |
2 |
2016 |
256 |
2 |
Variação |
-59,4% |
0% |
Fonte: TSE
Já a variação da quantidade de prefeitos também só diz respeito à queda do PT, que perdeu quase 60% dos seus prefeitos no país. Nas capitais o PT e o PSOL se igualam, com o primeiro elegendo um candidato em Rio Branco e levando outro para o segundo turno (Recife), e o segundo levando dois ao segundo turno (Rio de Janeiro e Belém) – o PSOL também levou Raul Marcelo (Sorocaba) para o próximo turno. Em 2012 o PT havia emplacado quatro prefeitos, e perdendo Luciano Cartaxo (João Pessoa) para o PSD no meio do seu mandato, o partido só conseguiu se reeleger na Prefeitura de Rio Branco. Já o PSOL, que havia eleito Clécio, em Macapá, também o perdeu para a Rede Sustentabilidade.
Em linhas gerais parece haver apenas uma queda significativa do PT, já aguardada por este partido estar no centro da crise política, sendo exposto na Operação Lava Jato e sofrendo o impeachment da presidente Dilma, mas nenhum grande crescimento do PSOL.
Mas o diabo mora nos detalhes. Em quatro grandes cidades – Belém, Porto Alegre, Belo Horizonte e Niterói – o PSOL fez as vereadoras (sim, no feminino, sendo duas delas negras) mais votadas de cada um dos municípios. Além do mais, o partido teve candidatos (dois deles ainda no pleito) com campanhas de grande repercussão nacional, como nos casos de Marcelo Freixo, Edmilson Rodrigues e Luciana Genro. Em contraponto à isto, o que pode ter animado o PT (se isto for possível depois de perder em 1º turno para João Dória) foi a expressiva votação de Eduardo Suplicy com mais de 301 mil votos, disparado o mais votado do país. Mas mesmo assim o partido assistiu uma redução da bancada paulistana, sendo ultrapassada pelo PSDB.
A diferença entre os dois partidos parece ser mais do que o futuro possa aguardar do que da atual situação. Ainda são dois partidos totalmente distintos em estrutura e alcance eleitoral, mas o PT está em franca decadência, enquanto que o PSOL espera colher mais frutos a cada nova eleição. O resultado do 2º turno poderá mudar a vida do PSOL, caso este ganhe as prefeituras de duas das principais cidades do país, Rio e Belém, o que também o colocará à prova da capacidade do partido de ocupar o espaço da esquerda socialista no país.
É importante contextualizar este momento de reorganização político-eleitoral também no movimento de avanço da direita. O PSDB foi incontestavelmente o partido vencedor nestas eleições. Com um crescimento nas principais cidades, elegendo já no primeiro turno dois prefeitos (sendo um deles na principal cidade do país) e levando oito para o segundo turno, os tucanos também foram os que mais cresceram, em números absolutos, no total de prefeituras do país, com 95 prefeituras a mais do que em 2012. Para completar foi o partido com o maior número de votos para prefeitos no Brasil. Outros partidos do chamado Centrão também cresceram consideravelmente, mas não trataremos aqui.
Tudo isto coloca mais um desafio à esquerda, reorganizar-se ou assistir a direita crescer ainda mais.